ATA DA QUADRAGÉSIMA NONA SESSÃO SOLENE DA QUINTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 24.11.1987.

 


Aos vinte e quatro dias do mês de novembro do ano de mil novecentos e oitenta e sete reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Quadragésima Nona Sessão Solene da Quinta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Sr. Paulo Roberto Falcão, concedido através do Projeto de Lei do Legislativo n° 01/83 (proc. n° 158/83). Às dezenove horas e trinta minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Brochado da Rocha, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Dr. Alceu Collares, Prefeito Municipal de Porto Alegre; Dep. Mendes Ribeiro Filho, representando, neste Ato, o Presidente da Assembléia Legislativa Dep. Algir Lorenzon; Dr. Lauro Guimarães, Vice-Presidente do Sport Club Internacional; Sr. Paulo Roberto Falcão, Homenageado; Verª. Gladis Mantelli, 1ª Secretária da Câmara Municipal de Porto Alegre. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Hermes Dutra, como proponente e em nome das Bancadas do PDS, PL e PCB, declarou viver a Casa, hoje, um momento especial, em que se reúne para entregar o Título de Cidadão de Porto Alegre a Paulo Roberto Falcão, fazendo um relato da vida do homenageado, desde sua infância, em Canoas, até os dias atuais. Destacou os vários títulos conquistados por S.Sa. dentro da carreira futebolística, comentando também sua atuação como empresário mas ressaltando ter sido o futebol a área em que sempre se sobressaiu mais. A seguir, o Sr. Presidente registrou a presença, no Plenário, do Sr. Gilberto Medeiros, Presidente do Sport Club Internacional, convidando S.Sa. a fazer parte da Mesa. Em continuidade, o Ver. Kenny Braga, em nome da Bancada do PDT, teceu comentários acerca do significado do homenageado para o futebol mundial e, principalmente, para o gaúcho, onde, por muitos anos, defendeu a camiseta do Sport Club Internacional. Falou sobre as várias homenagens já recebidas por Paulo Roberto Falcão, dentro da área futebolística, destacando a responsabilidade e a competência sempre observados em seu trabalho profissional. O Ver. Nilton Comin, em nome da Bancada do PMDB, dizendo não falar apenas em nome de seu Partido mas, também, em nome do Esporte Clube São José e dos demais pequenos clubes gaúchos, agradeceu ao homenageado por seu significado e seu trabalho em prol do esporte brasileiro e mundial e ressaltou a importância do esporte para a aproximação e integração dos mais diversos grupos sociais. E o Ver. Artur Zanella, em nome das Bancadas do PFL e do PSB, destacou ser Paulo Roberto Falcão um exemplo de crescimento maduro e consciente dentro da carreira futebolística, discorrendo sobre os rumos seguido por S.Sa. desde seu início profissional em categorias inferiores, até sua consagração dentro dos campos de futebol de nosso País e de todo o mundo. A seguir, o Sr. Presidente convidou o Pref. Alceu Collares a proceder à entrega da Medalha e do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Paulo Roberto Falcão e concedeu a palavra ao homenageado, que agradeceu o Título recebido. Em prosseguimento, o Sr. Presidente fez pronunciamento a alusivo ao Evento, convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem à Sala da Presidência e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos às vinte horas e trinta e três minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Extraordinária a ser realizada amanhã, às dez horas e trinta minutos. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Brochado da Rocha e secretariados pela Verª. Gladis Mantelli. Do que eu, Gladis Mantelli, 1ª Secretária, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.

 

 


O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Ver. Hermes Dutra, que falará pelas Bancadas do PDS, PL e PCB.

 

O SR. HERMES DUTRA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Senhoras e Senhores, a Câmara Municipal de Porto Alegre efetivamente vive hoje, um momento muito especial. É até praxe, nessas ocasiões festivas que se diga isso. Mas hoje o momento transcende o formalismo para adquirir uma concretude que salta os olhos de quem está tendo a ocasião ímpar de viver o momento desta solenidade.

A Casa do Povo de Porto Alegre se reúne para entregar o Título de Cidadão de Porto Alegre a Paulo Roberto Falcão.

Falar de Falcão, como mundialmente ficou conhecido nosso homenageado, não é difícil. Afinal, estamos a homenagear a quem, por muitos anos, encantou as platéias do Rio Grande e do Brasil e cativou a Europa, de forma particular a Itália, sendo até mesmo cognominado de “Rei de Roma”. Não é difícil, pois, cantar as suas glórias. A tarefa se torna árdua na medida em que o tempo é limitado e temos que compatibilizar o que Falcão é e foi, em tão pouco tempo. Esse é verdadeiramente, um desafio.

Paulo Roberto Falcão nasceu em Abelardo Luz, Santa Catarina, em 16 de outubro de 1953.

Filho de Bento Falcão e Azize Pedro Falcão, irmão de Ilsa e Pedro, veio para o Rio Grande do Sul com seis anos, fazendo o curso primário no Colégio Irmão Miguel, e o Segundo Grau no Colégio La Salle. Aprovado no Vestibular de Direito, na Faculdade Ritter dos Reis, trancou a matrícula ao ser transferido para o futebol italiano, em 1980.

O jogador brasileiro de maior sucesso no futebol europeu nos últimos vinte anos, considerado o melhor jogador do mundo ao ser campeão pelo Roma, pouco antes da Copa da Espanha, jogou em apenas um clube no Brasil antes de ser negociado com o futebol italiano: o Sport Clube Internacional, onde chegou em 1965, aos doze anos, para jogar na escolinha de Jofre Funchal. Passou por todas a categorias do clube e antes de ser profissionalizado, por indicação de Dino Sani, o técnico que o lançou em 1972, integrou a seleção brasileira no Torneio de Cannes, na França, em 1971, e a seleção da Olimpíada de Munique, em 1972. Profissionalizado em 1972, foi campeão gaúcho nos anos de 73, 74, 75, 76 e 78; campeão brasileiro em 75, 76 e 79; e vice-campeão da América, em 1980, sempre pelo Internacional. Em junho desse ano foi negociado com o Roma, que ele ajudou a levar ao título italiano depois de mais de duas décadas, passando a ser o maior divulgador do futebol gaúcho e do nome de Porto Alegre. Disputou a Copa da Espanha como o jogador mais destacado do Brasil. Também participou da Copa do México, período em que já estava de volta ao Brasil jogando pelo São Paulo Futebol Clube, onde conquistou o título paulista em 1986. Não jogou mais depois da Copa do México. Dono de seu passe, não renovou com o São Paulo e não aceitou convites da Espanha, da Itália e da França, preferindo tratar de seus negócios, especialmente da sua grife. Está de volta à Itália, há dois meses, não como jogador, mas como um dos apresentadores do programa de maior sintonia da televisão italiana o “Domenica In”, onde fala de política, entrevista personalidades e, ao final, comenta os jogos dominicais do campeonato italiano.

Falcão é integrante de um pequeno grupo de brasileiros que alcançou notoriedade fora das fronteiras nacionais: Pelé, Jorge Amado, Roberto Carlos, Nelson Piquet, Airton Senna, Ivo Pitanguy e Oscar Niemeyer. Entretanto, Falcão salientou-se mais porque em certos povos, os anglos e os latinos de forma particular, nenhuma atividade humana desperta tanta paixão como o futebol. A melhor interpretação dramática, o trecho mais emocionante de um romance e a mais comovente música são incapazes de concorrerem com as emoções que transbordam no momento de um gol.

Embora Falcão tenha se mostrado um eficiente empresário do mundo dos negócios, na verdade foi no futebol que ele mostrou ao mundo seu talento, sua garra e sua inteligência. Nos gramados do Rio Grande do Sul Falcão encheu os olhos de milhares de admiradores do futebol que se deleitavam com seus passes magistrais e suas jogadas muitas vezes decisivas. Falcão foi até mesmo o desespero para nós, gremistas, que apreciamos o futebol, que em muitos grenais ficávamos com o grito de aplauso trancado em nossa garganta porque o resultado de suas jogadas era sempre desfavorável a nós tricolores. Mas Falcão ultrapassou até mesmo essa difícil barreira que existe entre os gaúcho, conquistando admiradores tanto em seu time, o Internacional, como no seu grande rival, o meu Grêmio Futebol Porto-Alegrense.

Dele diria o ator Vitorio Gassman: “Falcão é um brasileiro absurdo, é um sul-americano essencialmente racional” quando num lance durante o jogo com a Fiorentina, Falcão elevou a bola com o calcanhar para a cabeça do centroavante Roberto Puzo que só teve o trabalho de completar para o fundo do gol. Quando Falcão disse que poderia repetir o lance, mas só quando fosse necessário, Gassman disse que aí o compreendeu e fez a afirmação acima.

Mas o que dizem os gaúchos, sobre este incrível homem do futebol? Fui buscar algumas opiniões de pessoas ligadas ao ramo, com o fito de deixar registrado nos Anais da Casa, o pensamento dos que entendem do assunto. De Falcão, diz Milton Ferreti Jung, “apenas uns poucos podem ser considerados favoritos dos deuses do futebol. A esses, chamo de semideuses, porque sua parceria com a bola é tão perfeita que transcende os dotes humanos. Entre eles, incluo Falcão. A bola sempre esteve para Falcão como o pincel para Velázques, o cinzel para Michelangelo e as palavras para Mário Quintana. Produzia obras de arte e poesia.”

Opinião diversa não tem o ilustrado jornalista e professor, hoje Secretário de Ciência e Tecnologia do Estado, Ruy Carlos Ostermann que refere-se a Falcão dizendo que “o futebol nasce com os grandes jogadores”. Parece uma repetição mas não é: só se percebe a grandeza do futebol, seu profundo ensinamento de vida, através do grande jogador. O pequeno jogador, que só insiste com o futebol, nada nos ensina senão o contrário: de como seria bom o futebol sem eles, que jogam menos que o futebol e, sob muitas formas, o depreciam.

Paulo Roberto Falcão, um dos mais excelsos jogadores de futebol que minha geração teve o mérito de ver jogar, foi um desses raros jogadores que ensinou os caminhos do futebol, fascinantes caminhos que o fizeram inesquecível para os meus olhos que viram Pelé, entre outras lembranças para sempre.

Por isso, Falcão é, de certa forma, também eterno.

Lauro Quadros, radialista e comentarista de Futebol, assim se refere ao nosso homenageado: “Paulo Roberto Falcão passa a ser, agora, de direito, o que já era de fato: Cidadão de Porto Alegre. E, antes de Cidadão de Porto Alegre, Falcão logrou ser Cidadão do Mundo. E Rei de Roma. Essas coisas não acontecem por acaso. Conquistam-se. Falcão é daqueles indivíduos que transcendem ao seu âmbito. Como Pelé. Bom filho, bom irmão, bom amigo, bom colega, bom caráter, bom exemplo, Paulo Roberto Falcão é a prova viva de que o sucesso profissional é decorrência da conduta pessoal de cada um. Para quem, como eu, acompanhou o Falcão desde criança, seus caminhos, progressos e consagração, este é um momento emocionante. E de justiça, ainda que tardia. O Bola-Bola merece.”

Fui buscar, também, a opinião de outro catarinense ilustre e como tu, Falcão, também Cidadão de Porto Alegre: Armindo Antônio Ranzolin, que assim diz: “Em futebol considero-me um privilegiado. Pelo rádio, vivi, convivi, testemunhei e relatei as façanhas de Pelé e Garrincha, no Santos, no Botafogo e na Seleção Brasileira. Assim como também acabei sendo testemunha ocular de toda a história do jogador Falcão.

Fui narrador do primeiro ao último jogo de Falcão no time profissional do Internacional.

De estréia, como um garoto, em Manaus, em 1975, à despedida, em Montevidéu, na final da Libertadores, em 1980, como um craque consagrado. Octacampeão gaúcho e tricampeão brasileiro pelo Inter, Falcão transferiu-se para o Roma da Itália, como o maior jogador nacional depois de Pelé e Garrincha.

E, lá na Itália, também tive o orgulho de me transformar em testemunha de sua vitória, transmitindo um clássico decisivo entre o Roma e o Juventus, no qual Falcão abriu o caminho para a conquista do título de campeão italiano, no ano seguinte.

Por causa disso, em retribuição à sua imensa alegria de serem novamente campeões da Itália, depois de quarenta anos de espera, os torcedores do Roma coroaram Falcão como o Oitavo Rei de Roma.

Injustiçado, ao não ser incluído na Seleção Brasileira que disputou a Copa do Mundo de 1978 na Argentina, embora estivesse no esplendor de sua carreira, Falcão não conseguiu o título mundial, em 1982, na Espanha. Mas, sem dúvida, foi o melhor jogador daquela seleção e, se dependesse apenas dele, o Brasil já teria comemorado o Tetracampeonato do Mundo.

Como maior jogador de futebol de seu tempo e, igualmente, como cidadão, Paulo Roberto Falcão continua engrandecendo Porto Alegre que hoje, felizmente, está resgatando sua dívida para com ele.”

E Paulo Sant’Ana que só não está nesta Tribuna porque fala apenas um por uma Bancada, instado por mim a opinar sobre Falcão, disse: “A vida comete injustiças com algumas pessoas. Assim como Ruy Barbosa, numa eleição trágica, não se fez Presidente da República, Paulo Roberto Falcão não chegou a ser campeão do mundo. Azar da República e do futebol.

Eu tenho saudades, mesmo sendo gremista, da simplicidade talentosa e objetiva do futebol de Falcão. Era um ballet (sic). Falcão encantou Porto Alegre, Roma e o mundo com a plástica do seu futebol.

Fora do campo, as qualidades de fino trato, gentileza, cordialidade, simpatia e humanismo deste grande craque justificam à sociedade este Título que a Cidade, hoje lhe confere.

Um grande e inesquecível jogador. Um admirável homem público, isto é o que foi e é Falcão.”

Como vês, todas as opiniões coincidem: no trato com a bola és um verdadeiro gênio. O Futebol, cujo universo, no dizer de Armando Nogueira “tem muito de lúdico, de infantil, muito de criança. O futebol faz parte da vida de qualquer menino brasileiro. Porque o brasileiro é um ser lúdico e menino gosta muito de brincar, é gazeteiro. Eu entrei no futebol pela porta da fantasia.”

Neste universo fizeste teu mundo e a partir daí ganhaste o impulso para tuas outras atividades.

Mas nem todos conseguem essa íntima relação com a bola que no dizer, novamente, de Armando Nogueira “é uma intimidade quase perfeita, sem arestas”. “A bola é como as mulheres”, diz ele, “adora ser paparicada”. E por que nem todos conseguem? Porque essa esfera de couro exige que a tratem com carinho, eficiência e, sobretudo, amor. Só quem sabe conversar com a bola são os craques. Ela no campo é uma musa, um mistério que precisa ser controlado. Atrai os jogadores, espera carícias e retribui com carinho a quem a trata bem. O jogador que a acolhe mal, por ela é humilhado, no erro do passe, no efeito que a desvia do objetivo. Ninguém fica impune se não a trata bem. E tu, Falcão, és um dos poucos que adquiriu essa intimidade com a bola, formando um ser único cujo destino é o de encantar multidões.

Hoje Falcão é um empresário. E também aí tem mostrado que sua genialidade não é só para o futebol.

Ligado à moda há muitos anos, Paulo Roberto Falcão tem hoje uma das Griffes mais respeitadas no Brasil, produzindo artigos de qualidade e que podem ser encontradas nas mais sofisticadas lojas do País.

Com um gosto apurado, adquirido ao longo da carreira e nos contatos com os Papas da moda italiana, as criações da Griffe Paulo Roberto Falcão já começam a ser exportadas, principalmente para o mercado europeu, gerando preciosas divisas para o Brasil.

Na área das exportações, Paulo Roberto dirige sua própria companhia, a Amazon Trading, que hoje já comercializa com a Itália, Alemanha e França, tendo iniciado as atividades no setor de calçados e hoje já atuando em vários outros itens.

Embora dirija seus negócios a partir dos escritórios que mantém em São Paulo e na Itália, Paulo Roberto Falcão não perde Porto Alegre de vista, onde mantém um hotel e uma rede de postos de gasolina. Independente disto, sempre que pode vem ao Sul, mesmo agora, quando está radicado na Itália. Segundo Falcão, a Cidade exerce um especial fascínio sobre ele, pois é aqui que ainda mantém suas melhores amizades, onde sempre pode recordar os grandes momentos que viveu no Porto.

Deixei para o fim deste modesto pronunciamento, prezado Paulo Roberto Falcão, mais uma citação. A opinião daquele que deveria estar aqui na Tribuna desta Casa fazendo também um discurso. É a opinião do meu prezado amigo e irmão, Deputado Mendes Ribeiro Filho, autor do Projeto de Lei que concedeu-te (sic) este Título de Cidadão de Porto Alegre. Lembro-me, ainda, do ar preocupado com que então o Ver. Mendes Ribeiro buscava assinaturas de seus colegas para a apresentação do projeto. Votado e aprovado, vem-me à mente a alegria que senti no rosto de Mendes Ribeiro, naquele dia. Estava feliz o Conselheiro Gremista que via aprovado seu projeto. Pedi, na semana passada ao Mendes que me escrevesse o que ele gostaria de dizer aqui da Tribuna, Falcão. Falou, então, o Deputado, assim: “Quando assumi a condição de Vereador de minha Cidade entre meus planos de trabalho existia um: fazer, de Paulo Roberto Falcão, filho de Porto Alegre. Não aceitava o fato de que alguém que sempre honrou a camiseta de seu clube e foi sempre motivo de orgulho e referência da Capital gaúcha, não constasse da relação de agraciados com o Título de“Cidadão de Porto Alegre”.

Na condição de Conselheiro do Grêmio Futebol Porto-Alegrense, como desportista, na condição de homem público, como Vereador e Deputado Estadual me sinto orgulhoso de ter tido a iniciativa em nome de milhares de porto-alegrenses com apoio unânime de meus Pares, tornar realidade o reconhecimento de nossa Cidade ao homem, ao atleta, ao amigo Paulo Roberto Falcão.

Riqueza de Porto Alegre, Cidade onde viveu os instantes mais significativos de sua estupenda carreira, Falcão foi, em todos os momentos, através de sua postura e brilhante caráter, exemplo permanente para milhares de jovens, que justamente o transformaram em um dos maiores ídolos que o esporte gaúcho já possuiu. Parabéns, Paulo Roberto Falcão! Parabéns Porto Alegre!”

Sr. Presidente, Srs. Vereadores.

Como disse no início, hoje é efetivamente um dia especial. A Câmara Municipal de Porto Alegre está resgatando uma dívida e inscrevendo, com letras de ouro, o nome de Falcão entre seus cidadãos. Em nome do meu partido, o PDS, Partido Democrático Social e em nome das Bancadas do PL e PCB, quero te dizer Falcão, ao finalizar, que estamos muito felizes pelo dia de hoje. Temos a esperança de que, em tuas andanças pelo mundo, lembres desses momentos que estamos passando e, sobretudo, não esqueças nunca dessa Cidade de Porto Alegre que tem tanto amor e admiração por ti. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa registra a presença do Presidente do Sport Club Internacional, Gilberto Medeiros.

A seguir, cedemos a palavra ao Sr. Ver. Kenny Braga, que falará neste ato em nome da Bancada do PDT.

 

O SR. KENNY BRAGA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, minhas senhoras e meus senhores, meus amigos, amigos de Paulo Roberto Falcão; representantes da Escola de Samba Imperadores, que levam para a avenida, como tema enredo do carnaval deste ano “Vida de Paulo Roberto Falcão”; desportistas, meus colegas de rádio, jornal e televisão.

Quis o destino, do alto de suas disposições invisíveis, que se criasse hoje nesta Casa, uma agradável e inesquecível coincidência. A coincidência de um reencontro e de uma gratidão. Quem se reencontra não são exatamente as mesmas pessoas, mas elas continuam ligadas por laços fundamentais que ao longo da vida se identificam na paixão do futebol e pela compreensão da grandeza e do milagre da vida. Falo no homenageado desta noite, o cidadão do mundo, Paulo Roberto Falcão, neste misto de vereador, de jornalista, que um dia, agindo de maneira diferente, ele, Falcão com a maestria do seu “craquismo” e eu como simples torcedor de arquibancada, lutamos pelo mesmo objetivo, agora, e permanente, imorredouro e perene da camisa vermelha do Internacional.

Nem tantos anos se passaram e, no entanto, muita coisa mudou em nossas vidas, em nosso País e no mundo, mas, o que importa, o que realmente interessa é que uma velha amizade permaneceu, e que o Paulo Roberto Falcão, que homenageamos hoje, continua sendo no comportamento e na alma um pouco do menino pobre criado em Canoas, um dia subitamente atraído pelo futebol nas divisões inferiores do Internacional. Aos que surpreendem com esta afirmação, na medida em que Falcão se tornou um vencedor, um homem bem sucedido, num dos centros da civilização mundial, eu explico pacientemente uma verdade cristalina da qual deveríamos conviver amorosamente pelo resto dos nossos dias: só os homens verdadeiramente realizados, só os homens verdadeiramente competentes não admitem que o lado perverso do sucesso lhes roubem o caráter e a naturalidade. Nesse sentido, Paulo Roberto Falcão é um paradigma de qualidades invulgares, jamais permitiu que a notoriedade e a riqueza apequenassem os laços de ternura humana que o vincula obrigatoriamente aos seus amigos e aos seus admiradores em todos os lugares por onde passa. E dentro de uma visão promocional e mercantilista da vida, que muitas vezes faz os indivíduos bonecos de ostentação e de banalidade, o Paulo Roberto Falcão teria todas as condições objetivas para ser uma estrela distante e inacessível. Que outro brasileiro, além dele, teve a honra de ser chamado o Oitavo Rei de Roma. Pois quantos brasileiros além dele conseguiram fazer com que a sua Cidade, o seu clube de origem, o clube do seu coração e o seu País se tornassem mais conhecidos no exterior em cima do seu sucesso como jogador de futebol, empresário e hoje apresentador de televisão, certamente, muito poucos. No entanto, o Falcão é tão somente, para nós, seus amigos, para nós, os seus admiradores, o jogador inigualável do Internacional, o tricampeão brasileiro pelo Internacional, o octacampeão gaúcho pelo Internacional, o craque de passadas elegantes e bola presa ao fascínio e ao intelectualismo do seu estilo. O Falcão dos jogos memoráveis, como a decisão da Copa Libertadores da América, em 1980, realizada no Estádio Centenário em Montevidéu. Já vendido após uma transação milionária que cativou, durante vários dias e alma esportiva da Cidade, o Falcão foi o melhor em campo. Jamais lhe passou pela cabeça protestar que está vendido para ficar fora da partida, porque esta mesma partida poderia significar uma grande conquista para o time do seu coração. Jamais Falcão cogitou da idéia de que poderia lesionar-se seriamente na dura disputa com os uruguaios, na véspera do embarque para Roma, onde uma multidão o esperava com esperança, mais tarde confirmada de tirar o grande clube da cidade do marasmo de vários anos sem um título sequer. É isto, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, que eu chamo de caráter, é isto que eu chamo de personalidade. Antes de fazer considerações egoístas, e até mesmo compreensíveis diante da grandiosidade da transação com Roma, o Falcão se empenhou até o último minuto para arrancar com garra aplicação e humildade, uma vitória consagradora para o time do seu coração. Se a vitória não chegou, se a vitória não aconteceu, isto é totalmente irrelevante. Aquele jogo, no Estádio Centenário, mostrou mais uma vez, de forma exaustiva e definitiva o caráter e a hombridade do cidadão do mundo, do craque Paulo Roberto Falcão. E foi um episódio desta natureza que ele conquistou para sempre a admiração do povo colorado e de todos os desportistas do Rio Grande do Sul. Foi com episódios desta natureza que ele inscreveu o seu nome com letras de ouro, na galeria dos ídolos do nosso futebol, e que ganhou lugar especial, revestido de carinho e de simpatia do coração do nosso povo. Se o povo admira e ama Roberto Falcão, com toda a intensidade de seus sentimentos, esta Casa assume, neste momento, a característica mais sensível, a característica mais rica e talentosa de sua vocação histórica. Une o seu povo de Porto Alegre, o reconhecimento de cidadão, que sintetiza o seu carisma e o seu charme, a sua cultura e a sua polidez, a sua generosidade e a sua maestria, as melhores virtudes de nossa gente. E ao mesmo tempo resgata uma dívida de gratidão por muito que Falcão tem feito para elevar e engrandecer o nome da Cidade de Porto Alegre em todos os quadrantes do mundo, onde milhares de apreciadores do futebol têm assistido as exibições do seu talento milionário. Sei que a homenagem poderia ter sido realizada antes, sei que a homenagem poderia ter transcorrido com a naturalidade das águas de um regato deslizando sobre as pedras. Mas também sei que o tempo decorrido do anúncio desta homenagem e da sua efetivação concreta neste início de noite, fez crescer ainda mais a magnitude do seu significado.Portanto, a homenagem chega em boa hora, cidadão do mundo e amigo Paulo Roberto Falcão. Sei que o teu grande motivo de felicidade nesta hora é saber que este povo que nós representamos aqui nesta Casa gosta muito de ti e deseja do fundo do seu coração votos renovados de sucesso, o sucesso a que tens direito por mérito, mas que não deixa diminuir a tua ternura e a tua humanidade. Sei que uma parcela muito expressiva do povo de Porto Alegre gostaria que ficasse mais perto e viesse morar aqui de forma definitiva para contribuíres ainda mais para a elevação e a grandeza deste nosso amado Porto dos Casais. São inúmeras as pessoas que lembram o teu nome para desempenhar tarefas importantíssimas em nossa comunidade, porque elas sabem do teu potencial e sobretudo, conhecem a tua imensa dignidade. Mas não lamentamos de forma alguma, Falcão, que tenhas optado por um centro maior, pela cidade eterna, onde recebes do homem simples das ruas tanto afeto e tantas gentilezas como nós porto-alegrenses somos capazes de te oferecer. Se um dia, porém, decidires voltar a esta Cidade que te viu crescer para a consagração do universo luminoso do futebol, eu sei que esta Cidade, Falcão, vai te receber com abraço comovido e gratificado. A tua presença permanente entre nós seria um acréscimo de qualidades que não temos o direito de prescindir ou menosprezar. Quem sabe Falcão ainda vais viver aqui em Porto Alegre um grande momento de tua vida, é o pouco que a minha sinceridade e a minha gratidão têm para te desejar. Tu és maravilhosamente grande e maravilhosamente simples. Tu és um nobre e digno representante do nosso povo em todo o desdobramento da tua biografia, o guri simples, o cidadão do mundo e, no entanto, visceralmente, porto-alegrense para jogar nas peladas da vida e sair sambando por aí em meio à magia do nosso carnaval.

Muito obrigado, Falcão, pelo que tens feito.

Muito obrigado por tudo que tu és.

Porto Alegre não poderia ter sido mais feliz na escolha do seu homenageado. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.) 

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa concede a palavra ao Sr. Nilton Comin. S. Exa. falará em nome da Bancada do PMDB.

 

O SR. NILTON COMIN: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, minhas Senhoras e meus Senhores.

Não são apenas o Grêmio e o Internacional que estão presentes nesta ocasião, Paulo Roberto Falcão. Está presente, também, o Sport Clube São José, um pequeno clube da 2ª. Divisão do futebol gaúcho. Mas, por ser pequeno e modesto, conhecendo as suas limitações, é que venho homenagear o Cidadão do mundo Paulo Roberto Falcão. E foi deste modesto Clube que saíram tantos nomes da glória do esporte brasileiro. Aqui, para nossa honra, está presente: Gilberto Timm, nosso jogador, grande treinador do mundo, treinador da Seleção Brasileira e reconhecido em todas as partes; foi do modesto São José que saiu Ênio Andrade, tricampeão brasileiro. Devo dizer, Paulo Roberto Falcão, que teu nome ultrapassou teu próprio conhecimento, ultrapassou as barreiras do Internacional, do Roma, da Seleção Brasileira, teu nome repercute também nos clubes de segunda e terceira divisão, de todo o mundo. Tu os conheces bem, porque são os clubes da segunda e terceira divisão da Europa; tu conheces o que são os clubes. É que, infelizmente, no nosso querido Brasil, no campeonato gaúcho, o segundo clube colocado na primeira divisão é o último e sempre fica, entre o Grêmio e o Internacional, que são as duas grandes forças do futebol gaúcho. Mas, no momento em que as sociedades mais organizadas na cultura, na ciência e no esporte conseguem alargar seus horizontes, dá-se um maior valor àqueles clubes que formam também seus grandes jogadores.

Não vou fazer aqui, Paulo Roberto Falcão, uma repetição de fatos, já enumerados pelos ilustres líderes Vereadores Hermes Dutra e Kenny Braga. Venho aqui, em nome do PMDB, meu partido, e em nome do meu Clube - o Esporte Clube São José - trazer o meu abraço e o reconhecimento de sociedades esportivas de um outro nível, que não o teu, e de escolinhas de futebol, de onde vieste, e dizer que o meu, o Esporte Clube São José, tem mais de 200 garotos em sua escola, e tem equipes que levam teu nome “Paulo Roberto Falcão”. E aqueles garotos loiros, elegantes, no jogar, a nossa pequena torcida, costuma apontar: “lá está o Falcão!” Elegante, foi dito aqui: “é um balé no futebol”.

Mas, ao concluir as minhas palavras quero colocar que tudo isto que tu fizeste para o esporte devo colocar fora das quatro linhas, o Paulo Roberto Falcão que preside júris de intelectuais, da parte social de toda a comunidade. Em todo o mundo, Paulo Roberto Falcão é convidado. E através do esporte foi que o Presidente Nixon se aproximou da China Comunista, através de uma partida de “pingue pongue”.

É no esporte, Falcão, que tu és o grande embaixador e nós nos orgulhamos como pequeno clube do Passo da Areia. Por isso é que nós temos o prazer de dizer que Paulo Roberto Falcão é um dos nossos. Sou grato.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa concede a palavra ao Sr. Ver. Artur Zanella. S. Exa. falará em nome da Bancada do PFL e do PSB.

 

O SR. ARTUR ZANELLA: Sr. Presidente da Casa, Ver. Brochado da Rocha; Dr. Alceu Collares, Prefeito Municipal; nosso homenageado, Paulo Roberto Falcão; Gilberto Cachapuz Medeiros, Presidente do Internacional; Dep. Mendes Ribeiro Filho, que representa, neste momento o Poder Legislativo Estadual; Dr. Lauro Guimarães, Vice-Presidente do Clube, também meu ex-colega; Ver.ª Gladis Mantelli; Srs. Vereadores, minhas senhoras e meus senhores; jornalistas: sabem os políticos e o nosso Prefeito é um deles, que o pior momento de um comício, quando está se concluindo, é o último orador a falar, antes do homenageado, tudo já foi dito, a estrela maior está chegando - hoje o Prefeito teve uma experiência desse tipo, lá na nossa Vila Restinga - porque tudo aquilo que havia a se falar de uma pessoa que é um exemplo para todos nós e que não subiu na vida, mas cresceu na vida, que é o Paulo Roberto Falcão, que gerou aqui nesta Casa brigas políticas - e os Vereadores mais antigos sabem a que estou me referindo, na legislatura anterior a nossa - ciúmes, inclusive meu e de outros. Eu, que sou conselheiro do Internacional, um cartola, sempre tenho ciúmes do conselheiro gremista que consegue a felicidade de aprovar este Título de Cidadão de Porto Alegre.

E eu me lembro Falcão do tempo em que eu era jovem, não eras nem nascido e, eu em um internato em Uruguaiana, nós assistíamos filmes argentinos, e eu lembro como eu chorei - menino que eu era - quando eu vi um filme de um time, o do Boca Juniors, o nome do filme era “Bola de Meia”. Acho que ninguém mais assistiu a esse filme, em que um jovem subia no futebol e quando estava no auge da sua fama, por um motivo ou outro ele não chegou lá.

Sempre há esse filme com essa lenda, o jovem que no futebol, no esporte amador, basquete, ele vai subindo e quando ele vai chegar lá em cima, o filme sempre termina mal e o ídolo talvez não chegue ao que todos nós esperávamos. E, é uma boa pergunta que às vezes eu me faço: onde andam os ídolos da minha meninice, da minha juventude? O roteiro do Falcão é diferente, ele fez parte de uma geração de ouro que fazia com que os colorados fossem mais cedo ao campo para ver o juvenis. E, Falcão e o príncipe Jajá eram aquele espetáculo antecipado e creio que muitos abandonavam a partida principal em seu meio depois de ver a exibição dos juvenis. Depois, Falcão fez parte da geração injustiçada, geração de Zico, Sócrates. A geração que na copa de 78 - e eu comentava há pouco com o Gilberto Timm, viu entrar no avião da delegação, não o Falcão, mas o Chicão. Isto acontece. E viu esta geração injustiçada, na Espanha por três vezes numa partida estar classificada e perdeu. E, como houve, nesta Casa, uma estupidez política há muitos e muitos anos e, repito, o Ver. Jorge Goularte deve se lembrar bem, também tem estupidez futebolística e, em 86, vimos, no México, aquela seleção sem coração. Mas, num final de tarde, onde todos já exaltaram o mito, onde o Kenny disse e eu repito que o mito no ano que vem descerá ao povo. Vejo ali o Betinho Medina que levarão o teu nome, Falcão, para todos aqueles que gostam de futebol, de carnaval e que levarão o teu nome na avenida. Queria dizer, em nome da minha Bancada, PFL, em nome da Bancada do PSB, um outro gremistão impertinente que é o Ver. Werner Becker, queria dizer nestas breves palavras, que, finalmente, um daqueles filmes lendários termina bem e a este filme eu assisti. Quer dizer, nesta noite que, quando tu chegas ao apogeu na tua vida, junto com o Pedro - eu acompanho a tua vida - junto com a Ilza com quem tive a honra de trabalhar, com a Dona Zize, que eu admiro tanto por informações, eu queria dizer o que eu já disse hoje, em outra solenidade, que, na verdade, tu não recebes homenagem nenhuma nossa, que representamos a Cidade, e não recebe também homenagem da cidade, eu acho que hoje, nesta noite, nós temos uma homenagem mútua, homenagem que nós fazemos para você, é a homenagem que Falcão faz a todos nós, que nos dá a honra da sua presença, por nos dar a honra do seu exemplo e espero que nos dê sempre, a esta Cidade, a honra da sua amizade. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.) 

 

O SR. PRESIDENTE: Convidamos o Exmo. Sr. Prefeito de Porto Alegre a proceder à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Sr. Paulo Roberto Falcão, bem como a respectiva medalha.

(O Sr. Prefeito procede à entrega do Título.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o novo cidadão de Porto Alegre, Paulo Roberto Falcão.

 

O SR. PAULO ROBERTO FALCÃO: Ver. Brochado da Rocha, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Dr. Alceu Collares, Prefeito Municipal de Porto Alegre; Dep. Mendes Ribeiro Filho, representando neste ato o Presidente da Assembléia Legislativa, Dep. Algir Lorenzon; Dr. Lauro Guimarães, Vice-Presidente do Sport Club Internacional; Verª. Gladis Mantelli, 1ª. Secretária da Câmara Municipal de Porto Alegre; todos os amigos aqui presentes: “Para quem mais não foi que um dedicado jogador de futebol, a outorga do Título de Cidadão de Porto Alegre que V. Exas. me concedem, por proposta do ex-Vereador e amigo Mendes Ribeiro, com o apoio do Ver. Hermes Dutra, não só me comove, mas me impulsiona a perquirir as razões de tão grande homenagem. Mergulho no passado. Volto para reprisar minhas vivências com esta maravilhosa Cidade e me surpreendo, de início, uma criança de 12 anos a vará-la,  vindo de minha querida Canoas, para tentar construir minha carreira profissional. Relembro os meus caminhos; do custo quase irresistível do transporte; das incertezas quanto ao meu futuro; da mão paterna de Jofre Funchal que não só me incentivava a prosseguir, mas também se esforçava em suprir minha fragilidade física, alcançando-me doses de fortificantes, obtidas com os sacrifícios de seu próprio e limitado bolso. Desse tempo em diante a Cidade de Porto Alegre não só me acolheu, como ajudou. E foi me edificando, guiando-me para o rumo que eu escolhera, fazendo-me não apenas um filho, mas me concedendo diuturnamente privilégios incomensuráveis. A minha casa, por longos e longos tempos, foi o Sport Club Internacional, onde orientado por profissionais competentíssimos, ganhei qualificação a ponto de, esquecido de falsas modéstias, pode dizer que alcancei uma inequívoca notoriedade como cidadão e como futebolista.

Em 1980 pensei que essa separação protagonizada por meu próprio nível profissional que Porto Alegre e seu povo me ajudaram a obter, naturalmente, haveria de arrefecer os sentimentos profundos que nos vinculam. A distância, imposta naturalmente pelas circunstâncias, pensava eu, certamente faria esquecer e esmaecer  a carga de meus encantos por Porto Alegre e ela, induvidosamente distraída no seu dia-a-dia, a cultivar também seus outros filhos, pouco a pouco me esqueceria.

Devo confessar que me enganei. Levado para o Roma, entre o desconforme e cheio de curiosidade, levei a Porto Alegre meu coração e ela ficou aqui, através de sua maciça população colorada, maciça população gremista, não esportistas e tudo mais, a torcer por mim e acompanhar meu caminho em seus jornais, em suas revistas, em suas rádios e em suas televisões.

Eu permanecia com a Porto Alegre e ela permanecia comigo, agregando-se a tudo isso, o sentimento nobre e doído da saudade recíproca.

Os meus retornos foram ocasionais, mas me fiz e me faço aqui sempre que posso, para rever minha família, meus amigos, pois considero esta Cidade a mãe do meu sucesso e de minha alegria. Ao rever tudo isto compreendo o gesto de V. Exas. ao conceder-me este Título de Cidadão de Porto Alegre.

É mais um ato de amor da minha Cidade que, satisfeito, naturalmente muito emocionado por este momento difícil até para mim, agradeço sem saber, e até vou ficar pensando em minha volta para Roma, os motivos que os levaram a fazer esta grande homenagem para mim. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.) 

 

O SR. PRESIDENTE: Ao finalizar o ato em que hoje se fez a entrega do Título de Cidadão de Porto Alegre a Paulo Roberto Falcão, quero uma vez mais agradecer a comparência do homenageado assim como das autoridades que aqui se encontram e de tantos quantos colaboraram para que este evento se realizasse.

Não quero deixar sem resposta nosso homenageado para dizer que, certamente todos aqueles que contribuíram desde os membros desta Casa, desde os funcionários desta Casa até o Sr. Prefeito de Porto Alegre em conceder o Título a S. Exa., apenas, estavam fazendo justiça transcendendo a área do futebol, mas, vendo em Paulo Roberto Falcão uma pessoa que promovia e distinguia Porto Alegre no cenário internacional. Acredito que só este fato, Paulo Roberto Falcão, seria motivo justo e equânime para que concedêssemos este Título, Porto Alegre e repito aqui o que alguns Vereadores disseram quando encaminharam esta votação, diziam que apenas resgata uma dívida da promoção que o homenageado fez na nossa Cidade. Que leve consigo o nosso agradecimento eis que foi pensada e repensada a concessão deste Título no sentido de reconhecer o quanto Paulo Roberto Falcão colaborou para a nossa Cidade e digamos até para o nosso Estado e do nosso País. Independente da sua trajetória futebolística, se assentou na sua pessoa, na sua personalidade, na promoção e na dignidade com que usou a sua vocação para promover a nossa Cidade. A indagação colocada na Tribuna pelo homenageado, damos uma resposta para constar dos Anais da Casa o que estou a referir e dito não por este Vereador, mas por outros Vereadores desta Casa.

Por isso, Paulo Roberto Falcão, autoridades presentes, a Casa de Porto Alegre se sente honrada de estar neste momento fazendo a entrega e cumpre assim um desígnio popular. E para isso teve consigo as autoridades aqui na Mesa representadas e outros que vislumbro neste Plenário que são coadjuvantes neste ato e de outros que perseguem a vida do nosso homenageado. Muito obrigado, Paulo Roberto Falcão.

Está encerrada a Sessão.

 

(Levanta-se a Sessão às 20h33min.)

 

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